Em quase quatro anos, o espetáculo "Midnight Clown" levou à cena pelo menos cem esquetes protagonizadas por atores "doentes" pela linguagem do palhaço, aquela com um pé no picadeiro e outro nos palcos.
O apresentador Kalvin Clown (Wellington Nogueira), o caipira Zorinho (Ângelo Brandini), a crítica Elizabeth de Queen (Bete Dorgam), as esquisitinhas Midnight Girl e a música ao vivo da bandinha Midnight, todos "personagens" fixos, são responsáveis pela costura das novas histórias, ou historietas, que duram de cinco a dez minutos.
Entre as peripécias, há um grupo de rap que apavora em "Mano Clown"; duas garotas serelepes que ameaçam confessar "o segredo enigmático do mistério top secret" em "As Coristas", paródia do seriado norte-americano "As Panteras", sucesso nos anos 70; um caçador que tenta conquistar a mocinha com borboletas "vivas", derramando lirismo e paixão em "Butterfly 2, a Conquista"; e um mímico que se vinga das vaias da platéia perpetrando uma cena de terror e sangue.
"São bobices puras, bobices poéticas, macabras", explica o diretor e ator Wellington Nogueira, 39. O gracejo do bobo é talvez a definição mais próxima do que se acompanha em "Midnight".
"Se o intérprete do besteirol precisa de grandes sacadas para verbalizar, o do clown bebe na fonte da ingenuidade, da seriedade em acreditar nas bobagens que leva ao público", diz.
Com o tempo, prossegue Nogueira, o projeto ganhou contorno de um programa de auditório. A crítica "especializada" Elizabeth de Queen faz a ponte entre público e "candidatos". Quando determinada performance não vai bem, ela é a primeira a pichar.
Outra peculiaridade do espetáculo é o time de comediantes que já revelou seus dotes em outras peças, como Bete Dorgam ("Quadri Matzi"), Alexandra Golik e Carla Candiotto ("As Filhas de Lear", ambas).
"É aqui que podemos experimentar as maiores loucuras em termos de comédia, o que é um desafio e tanto", diz Golik, 35. Aliás, depois de adaptar o "Rei Lear", de Shakespeare, ela promete uma versão clownesca para "As Três Irmãs", de Tchecov, no segundo semestre.
Para Carla Candiotto, 36, que já participou de montagens com os grupos Pia Fraus e Parlapatões, Patifes e Paspalhões, a experiência de "Midnight" equivale a uma "válvula de escape" para brincar em cena despida de qualquer preocupação estética.
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