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Foto do escritorTeatro Folha

Terceiro Sinal

Quando a gente ouve falar em uma peça de teatro que tenha no elenco gente do naipe de Rosi Campos e Cássio Scapin, vai logo pensando que se trata de uma montagem de boa qualidade, pois o senso comum diz que dois atores tão competentes não entrariam numa roubada. Só que, no caso de 'Terceiro Sinal', que estreou dia 2 de maio no Teatro Folha, quem entra na roubada somos nós, o público – infelizmente.


A obra, versão do original inglês 'Noises Off', foi escrita por Michel Frayn e, segundo soube, é um clássico da comédia britânica que se destaca por seu humor fino e irônico. No entanto, nesta versão que estreou em São Paulo, o que vemos é uma grande confusão. Não sei se o problema está na tradução, já que não assisti ao original, ou na adaptação, já que certas sutilezas poderiam se perder na transposição do roteiro para outra nacionalidade. Só sei que vemos um corre-corre danado, um entra-e-sai no palco, e não entendemos nada. Sem falar que o texto em português é fraquíssimo e não tem graça nenhuma. Diante disso, não dá nem para avaliar a atuação dos atores, uma vez que os pobres já estão aprisionados a um texto que não funciona.


Cássio Scapin e Rosi Campos em 'Terceiro Sinal': a dupla merecia coisa melhor.

O enredo mostra uma "peça dentro da peça", isto é: nós, o público, acompanhamos os bastidores de uma companhia teatral que ensaia e encena uma montagem chamada 'Nothing On'. No primeiro ato, portanto, vemos o ensaio de 'Nothing On'. E no segundo, a estreia propriamente dita. Rosi Campos interpreta Dotty Otley, estrela veterana que investiu suas economias na montagem da peça e tem envolvimentos amorosos com outros colegas – entre eles o ator Gary (Scapin). Só que, nessa "peça dentro da peça", texto e elenco são péssimos e o diretor ególatra. O resultado tem tudo para ser um fiasco e, lamentavelmente, na peça de verdade, isto é, aquela à qual assistimos, a impressão não é melhor.


Imagino que, para a obra original inglesa ter sido considerada um sucesso, o texto deve ter sido criado com muita engenhosidade para dar conta do timing, já que ela tem o ritmo frenético das comédias de vaudeville. Na montagem em cartaz no Teatro Folha, no entanto, as situações parecem soltas e uma cena não se concatena à outra. Faltaram os elos e o cuidado que dariam um mínimo de coerência e graça ao todo. E não sou a única a afirmar isso: meus amigos também não gostaram da peça e, ao final do espetáculo, vi a senhora da poltrona ao lado e outras pessoas reclamando. Detalhe: o Guia da Folha, que vem encartado na Folha de S. Paulo às sextas-feiras, atribui uma boa cotação à montagem, o que só pode ser explicado pelo fato de que o espetáculo está em cartaz no Teatro Folha. Contudo, nem Rosi Campos nem Cássio Scapin salvam essa comédia que não faz rir. Uma pena.



Ficha Técnica

Autor: Michael Frayn

Direção: Zadoque Lopes

Tradução: Mark Ramsden e Zadoque Lopes

Direção de Produção: Daise Amaral

Elenco: Rosi Campos, Cássio Scapin, Alexandre Barros, Daise Amaral, Djalma Lima, Déo Patrício, Larissa Garcia, Almir Marcelino e André Di Paulo.

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