A memória pessoal tem rendido ultimamente tantas montagens que quase chega a constituir um gênero. "Quando Comi o Cão", no entanto, se impõe como um sopro de ar fresco.
Primeiro, por que não cede à tentação da automistificação, de glamourizar a memória. Não se fala aqui de tempos privilegiados nem de acontecimentos exemplares, mas se quer compartilhar tênues momentos de alegria ou angústia: o primeiro dia de aula, a volta ao lar depois de anos de ausência, uma revoada de borboletas, uma cidade vista ao longe, que reconciliam a platéia com o cotidiano, transformando o banal em epifania, como no "Amarcord" de Fellini.
Depois, porque quem nos fala é um russo. O nome de Evguéni Grichkovets já soa insólito em um universo dominado por autores ingleses e americanos. Desautorizado de saída pelo anonimato, o marinheiro que conta sua vida não tem grandes histórias para contar, mas o faz com uma ironia autodepreciativa muito próxima do humor brasileiro, despertando uma grande curiosidade pela cultura russa pós-soviética. Ficha Técnica Texto: Evguéni Grichkovets Direção: José Simões Com: Cassio Scapin Quando: qua. e qui., às 21h; até 19/6
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